Os Abismos da Meia Noite (1984)
Irene (Helena Isabel), agente duma companhia de seguros, é encarregada de investigar o desaparecimento de um velho bibliotecário, numa cidade cidade de província.
No decurso das suas averiguações, trava conhecimento com Ricardo (Rui Mendes), professor de História, que conhecia a vítima e se interessa pelas tradições lendárias da região. Assim, Irene toma conhecimento de um antiquíssimo castelo medieval – cuja entrada secreta se abre, misteriosamente, na noite de Natal, durante as doze badaladas da meia-noite…
realizador
António de Macedo
designer
Judite Cília
assinado
sim
como assina
“Grafismo Judite Cília”
data
[sem data]
impressor
Costa & Valério, Lda.
dimensões
68 cm X 90,5 cm
fonte
Arquivo pessoal da designer.
actores no cartaz
Helena Isabel / Rui Mendes / Eugénia Bettencourt / Fernando Nascimento
n.º de entrada
014
sobre o cartaz
O cartaz de Judite Cília destaca as quatro personagens principais do filme: Irene (Helena Isabel), Ricardo (Rui Mendes), Adelina (Eugénia Bettencourt) que interpreta a mulher de Ricardo, e Luís (Fernando Nascimento), o ex-namorado de Irene, e também o filho de Rui e Adelina (Zé Manuel Teixeira). Os seus rostos pairam sobre o grupo de bailarinos no espaço sideral liderados pela figura do Magister (Baptista Fernandes), em torno do qual existe um halo de luz.
Ao fundo podem ver-se pequenas luzes que reproduzem de forma mais discreta o luminoso cenário do próprio filme, simulando o céu noturno estrelado. No seu todo a composição sugere, pela escala que os protagonistas ocupam, um misto de impotência e insignificância dos seres humanos perante a vastidão do universo e o plano ‘superior’ de existência em que Magister, Ilustre Contemplador e as restantes entidades vivem. Os rostos flutuantes assemelham-se a espectros, antecipando uma dissociação entre o corpo e o espírito, cuja mutabilidade se verificará no decorrer da história.
Na parte de baixo do cartaz encontra-se o título do filme, um lettering vermelho criado pela designer a partir dos créditos de abertura do filme que são, também, muito interessantes, por aparentarem ter sido animados (ou filmados diretamente, é impossível ter a certeza) de forma a que a tipografia assuma o comportamento da água em movimento, reforçando a importância deste elemento como meio de transição entre os dois mundos – o subtítulo do filme era, aliás, Os Abismos da Meia-Noite ou As Fontes Mágicas de Gerénia. A distorção das letras espelha uma ideia de incerteza dos sentidos, uma visão caleidoscópica ou psicadélica, uma alucinação. O lettering do título, além do cartaz e dos créditos de abertura, foi também utilizado na capa do disco com a banda-sonora do filme e replicado, com qualidade inferior, em pelo menos um anúncio de imprensa.