
Cartaz utilizado para a estreia comercial em Portugal.

Ernesto de Sousa numa sessão de divulgação de Dom Roberto (c. 1962). No fundo, o cartaz e cenas do filme.Fonte: Espólio online de Ernesto de Sousa.

Cartaz de Dom Roberto na fachada do Cinema Império em Lisboa (1962).Fonte: Espólio online de Ernesto de Sousa.
Cartonados de Dom Roberto. Fonte: website The Berardo Collection.

Cartaz de Dom Roberto em exibição na exposição "Your Body is My Body — O Teu Corpo é o Meu Corpo" @ Museu Berardo (2015). Fonte: blogue Miss Dove.
Dom Roberto (1962)
A vida miserável de João Barbelas (Raul Solnado), um vagabundo sonhador, a quem os miúdos alcunham Dom Roberto, por causa do seu espectáculo de robertos (fantoches).
Conhece Maria (Glicínia Quartin), rapariga com passado infeliz, julgando inocentemente ter arranjado habitação para ambos num prédio abandonado. O amor, a alegria de viver…
Porém, a felicidade é traiçoeira: João Barbelas e Maria perdem a casa que nunca fora deles, mas conservam a esperança e a ternura, embora a fome continue a persegui-los…
realizador
Ernesto de Sousa
designer
Armando Alves
assinado
não
data
Abril 1962
impressor
Bertrand e Irmãos
dimensões
70 cm X 100 cm
actores no cartaz
Raul Solnado / Glicínia Quartin
n.º de entrada
010
sobre o cartaz
Do ponto de vista gráfico, existe uma coerência entre os créditos iniciais do filme, criados por Victor Palla, e o cartaz, cuja autoria pertence a Armando Alves. O lettering do título do filme é constituído por letras em caixa alta, cujo desenho sugere uma certa manualidade devido aos ângulos e formas irregulares de cada caractere e à ausência de uma grelha de construção: ‘Dom Roberto’ parece ter sido desenhado livremente em linha quebrada e/ou recortado de uma folha de papel. Opção que é corroborada pelos créditos iniciais do filme, onde o título do filme e os restantes elementos textuais (em Futura Bold) surgem sobre rectângulos recortados, de contornos irregulares, que vão aparecendo e desaparecendo, tendo como fundo o teatro de fantoches. É aparente a influência estética de Saul Bass, pela ludicidade com que a informação é veiculada visualmente, embora não se saiba se de forma intencional/directa.
O título acaba, assim, por refletir o aspecto naif e lúdico do teatro de fantoches, mas também a ausência de estabilidade e regras nas vidas dos protagonistas. A Futura Bold é igualmente utilizada no cartaz para os restantes elementos textuais, alinhados à margem esquerda, conferindo-lhes sobriedade e modernismo com um apontamento de ‘ousadia’ através do uso exclusivo da caixa baixa nos nomes próprios, uma opção gráfica arrojada neste contexto e que revela as primeiras influências do Estilo Suíço nos cartazes de cinema portugueses.
Do ponto de vista da imagética e da composição, o peso do texto no canto superior direito é contrabalançado pela fotografia a preto e branco do casal de protagonistas no canto inferior esquerdo: apoiados um no outro, como no filme se amparam mutuamente, Maria olha esperançosa para o céu, enquanto o olhar de João é mais terreno, talvez por lhe pesar mais a responsabilidade de proporcionar o carinho e as condições de vida à sua amada, salvando-a de pensamentos mais obscuros.
Armando Alves concebeu o cartaz fruto de uma relação de amizade com o realizador – “Foi o Ernesto de Sousa que me pediu, éramos muito amigos e ele pediu-me isso nessa altura” – descrevendo sucintamente como procedeu à execução do mesmo:
“O cartaz é simples, com letras muito garrafais e com uma imagem característica do filme. A imagem ocupa dois terços do cartaz, depois há uma faixa em baixo que tem a mensagem do cartaz. Deve ser dos anos 60, por aí… É uma litografia, um offset. Nesta altura não havia grande possibilidade de trabalhar a imagem. Era uma fotografia do José Ernesto. Depois fiz um arranjo de letras e uma composição com ambas as coisas. Com a fotografia, com a imagem e com as letras” (Alves apud Lopes, 2017, p. 251-252).
A observação de outros artefactos como anúncios de jornal e cartonados revela que o filme manteve uma identidade gráfica consistente através destes suportes.