A palavra ‘campo’ vem do latim capere (capturar). Na Antiguidade, nos arredores de Roma ficava o ‘Campo de Marte’, o terreno onde se treinavam os soldados. Hoje, nos arredores de Lisboa, fica a maior base militar da Europa. Neste campo, militares treinam missões fictícias, enquanto astrónomos observam estrelas e um rapaz toca piano para veados selvagens que espreitam à noite. Aqui vi a vida manifestar-se nas suas dimensões mais contraditórias e misteriosas. CAMPO reflecte sobre a natureza das coisas, físicas e humanas, transcendentes e mundanas, que aqui se confundem e completam.
Tiago Hespanha
ilhas studio
sim
“design gráfico: ilhas studio”
[sem data]
texto
70 cm x 100 cm
Website da produtora Terratreme.
007
Para o documentário Campo de Tiago Hespanha (2019), tipografia e imagem foram conciliadas para a criação de uma composição que incita ou desvenda parcialmente a amplitude que o título do filme adquire na própria obra. Hespanha explora nesta obra a polissemia e etimologia da palavra campo (do latim capere, capturar), reconhecendo no campo de tiro de Alcochete e nas suas imediações um microcosmos para toda a existência humana – onde o treino militar (a guerra), a astronomia, a mitologia, a apicultura, a natureza, os afetos familiares, a música e tantas outras áreas se cruzam de formas por vezes tão poéticas quanto inusitadas.
O cartaz remete precisamente para o alcance que esta palavra pode ter, dando-lhe uma escala e presença imponentes que não são comuns no tratamento tipográfico dos cartazes de cinema criados pelas ilhas, embora mantendo a opção por uma fonte não serifada, de clara leitura, em caixa alta. O C acolhe uma figura que observa através dos binóculos (trata-se de um soldado, embora no decorrer do documentário um ornitólogo também faça uso do mesmo utensílio) – pela justaposição de imagens parece que dirige o seu olhar para a lua e para o firmamento, enquanto dentro do O se encontram soldados no seu treino militar.
No percurso de festivais o esquema de cores do cartaz era preto e azul claro para os elementos tipográficos, enquanto na versão utilizada para a estreia comercial estes elementos passaram a amarelo, tendo sido adicionadas breves citações do Le Monde, Público e Cahiers du Cinéma (no topo do cartaz), assim como a data de estreia (em grande destaque, sobre a Lua, primeiro “Brevemente” e posteriormente “26 de Setembro”), e louros de festivais em que o filme foi apresentado e/ou premiado.